Alex Simões

 

translated by Tiffany Higgins

 

 
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                                                          Anthony Carbajal

MOVIMENTO AVESSO

 

preciso de viver com mais vontade,

embora essa preguiça que ora ostento

reflita o meu caminho contra o vento

num movimento avesso ao da cidade.

 

cioso desta desindentidade,

lanço meu corpo em muros de cimento,

atiro-me ao asfalto e o sentimento

se perde por detrás de imensas grades.

 

o coração perplexo e irresoluto

— essa esfinge que dentro do meu peito

declara para todo sempre um luto —

 

redime e ameaça a minha garganta:

“àqueles que não vão pelo direito,

resta entoar o que esse avesso canta”.

opposite direction

 

I need to live with more volition

root out this laziness which now ostentatious

deflects my path against the wind

bends me the opposite way against the city

 

conscious of my disidentification

I throw my body against walls of cement

launch myself at asphalt and so the sentiment

loses itself within the immense grids

 

my heart irresolute and perplexed

— this sphinx who within my chest

declares forever we’ll live this curse —

 

and my throat redeems the threat:

“to those who won’t go straight ahead,

it’s left to murmur the song of this reverse.”

 


tradition, bursitis,

and the individual talent

 

my shoulders ache, they’re so weighty

dead and living tongues mixed together

the pleiades on my chest, not constellated

the forgotten are my counterweight

 

a thousand voices confused in the desire

to have mine and yours interlaced

and the fear of stopping at the intersection

between ideal rhymes and solfeggios

 

the sheaf is white toward yellowing

always the risk to lose oneself

always the same phantasm that soon I’ll shoulder

 

the world is melting into millennia

unsteady poets, bohemian refrains

you and I chanting only authorized names

 


 poets cover the sun with a sieve

 

poets cover the sun with a sieve

and they wish to make a profession of this.

they burn on shore with neither paddle nor oar.

shredding the parasol, they don’t earn their keep.

 

poets, sunflowers, and other foolish things,

no one sees much sense in this for long.

painters, don’t go cut your ears,

singers, don’t you listen to this song.

 

repeat no more what they feed you on your screen,

leap the wall of lamentation,

tell no more about the comb that combs

 

the hollow of your imagination.

on honey, not on buzzing, lives the bee.

that’s the poem’s bonus lesson, completely free.


 intimate kitchen

for Marcus Vinícius Rodrigues

 

I’ve got a poem here inside

that I forgot to show you

wait just a sec

while I go in to get it

 

it’s on its way, in the oven

do me a favor please

tell no one how it’s made

so the cake won’t fall or separate

 

hey, I’m back already

here it is, this seedling

everything happens

 

when it’s really got to come

my poem’s got yeast

and the moon, dust of the sun

bursite, tradição

e tá lento, o individual

 

doem-me os ombros, tantos são os pesos.

línguas mortas e vivas misturadas,

a plêiade no peito embaralhada,

os esquecidos como contrapeso.

 

mil vozes confundidas no desejo

de ter consigo a minha entrelaçada

e o medo de parar na encruzilhada,

entre rimas ideias e solfejos.

 

a folha em branco amarelada está.

há sempre um risco de perder-se, há

sempre um mesmo fantasma em breve assomo.

 

o mundo derretendo-se em milênios:

poetas trôpegos, prestos boêmios,

eu e você cantando velhos nomos.

 


poetas tapam o sol com a peneira

 

poetas tapam o sol com a peneira

e querem fazer disso profissão.

ardem na praia sem eira nem beira,

rasgando o guarda-sol, não ganham o pão.

 

poetas, girassóis e outras besteiras,

ninguém vê mais sentido nisso, não.

pintores, não se cortem nas orelhas,

cantores, não escutem esta canção.

 

não falem mais o que lhes der na telha,

pulem o muro da lamentação,

nem contem mais do pente que pentelha

 

o oco da sua imaginação.

de mel, não de zunzum, vive a abelha.

mais que um poema, aqui vai a lição.


cozinha íntima 

para Marcus Vinícius Rodrigues

 

tem um poema aqui dentro

que esqueci de lhe mostrar

espere só um momento

que vou lá dentro buscar

 

ele está em andamento

faz favor de não contar

pra ninguém do fazimento

pro bolo não desandar

 

peraí, que eu volto já

enquanto isso, o rebento,

todo acontecimento

 

vem quando tem de chegar

meu poema tem fermento

e a lua, pó de solar


Alex Simões is a Brazilian poet and performer who creates urban interventions with spoken and sung poetry and visual poems. He’s the author of Contrassonetos (Mondrongo, 2015), (hai)céufies (Esquizo, 2014), and 41 Collected Sonnets (Domínio Público, 2013). His work has been anthologized in Brazil and the U.S. He’s a co-editor of Revista Organismo journal and is a columnist for Revista Barril. His blog is www.toobitornottoobit.blogspot.com

 

Tiffany Higgins is the author of The Apparition at Fort Bragg (2016), an e-chapbook, winner of the Iron Horse Literary Review e-single contest for a long poem, selected by Camille Dungy. Her book And Aeneas Stares into Her Helmet (Carolina Wren Press, 2009) was selected by Evie Shockley as winner of the Carolina Wren Poetry Prize. Her poems appear in Poetry, Massachusetts Review, and other journals. Her translations of Rio poet Alice Sant’Anna’s poetry, Tail of the Whale, are available as a chapbook from Toad Press (2016). 

https://issuu.com/ironhorsereview/docs/ft._bragg_trifecta