Alex Simões
translated by Tiffany Higgins
MOVIMENTO AVESSO
preciso de viver com mais vontade,
embora essa preguiça que ora ostento
reflita o meu caminho contra o vento
num movimento avesso ao da cidade.
cioso desta desindentidade,
lanço meu corpo em muros de cimento,
atiro-me ao asfalto e o sentimento
se perde por detrás de imensas grades.
o coração perplexo e irresoluto
— essa esfinge que dentro do meu peito
declara para todo sempre um luto —
redime e ameaça a minha garganta:
“àqueles que não vão pelo direito,
resta entoar o que esse avesso canta”.
opposite direction
I need to live with more volition
root out this laziness which now ostentatious
deflects my path against the wind
bends me the opposite way against the city
conscious of my disidentification
I throw my body against walls of cement
launch myself at asphalt and so the sentiment
loses itself within the immense grids
my heart irresolute and perplexed
— this sphinx who within my chest
declares forever we’ll live this curse —
and my throat redeems the threat:
“to those who won’t go straight ahead,
it’s left to murmur the song of this reverse.”
tradition, bursitis,
and the individual talent
my shoulders ache, they’re so weighty
dead and living tongues mixed together
the pleiades on my chest, not constellated
the forgotten are my counterweight
a thousand voices confused in the desire
to have mine and yours interlaced
and the fear of stopping at the intersection
between ideal rhymes and solfeggios
the sheaf is white toward yellowing
always the risk to lose oneself
always the same phantasm that soon I’ll shoulder
the world is melting into millennia
unsteady poets, bohemian refrains
you and I chanting only authorized names
poets cover the sun with a sieve
poets cover the sun with a sieve
and they wish to make a profession of this.
they burn on shore with neither paddle nor oar.
shredding the parasol, they don’t earn their keep.
poets, sunflowers, and other foolish things,
no one sees much sense in this for long.
painters, don’t go cut your ears,
singers, don’t you listen to this song.
repeat no more what they feed you on your screen,
leap the wall of lamentation,
tell no more about the comb that combs
the hollow of your imagination.
on honey, not on buzzing, lives the bee.
that’s the poem’s bonus lesson, completely free.
intimate kitchen
for Marcus Vinícius Rodrigues
I’ve got a poem here inside
that I forgot to show you
wait just a sec
while I go in to get it
it’s on its way, in the oven
do me a favor please
tell no one how it’s made
so the cake won’t fall or separate
hey, I’m back already
here it is, this seedling
everything happens
when it’s really got to come
my poem’s got yeast
and the moon, dust of the sun
bursite, tradição
e tá lento, o individual
doem-me os ombros, tantos são os pesos.
línguas mortas e vivas misturadas,
a plêiade no peito embaralhada,
os esquecidos como contrapeso.
mil vozes confundidas no desejo
de ter consigo a minha entrelaçada
e o medo de parar na encruzilhada,
entre rimas ideias e solfejos.
a folha em branco amarelada está.
há sempre um risco de perder-se, há
sempre um mesmo fantasma em breve assomo.
o mundo derretendo-se em milênios:
poetas trôpegos, prestos boêmios,
eu e você cantando velhos nomos.
poetas tapam o sol com a peneira
poetas tapam o sol com a peneira
e querem fazer disso profissão.
ardem na praia sem eira nem beira,
rasgando o guarda-sol, não ganham o pão.
poetas, girassóis e outras besteiras,
ninguém vê mais sentido nisso, não.
pintores, não se cortem nas orelhas,
cantores, não escutem esta canção.
não falem mais o que lhes der na telha,
pulem o muro da lamentação,
nem contem mais do pente que pentelha
o oco da sua imaginação.
de mel, não de zunzum, vive a abelha.
mais que um poema, aqui vai a lição.
cozinha íntima
para Marcus Vinícius Rodrigues
tem um poema aqui dentro
que esqueci de lhe mostrar
espere só um momento
que vou lá dentro buscar
ele está em andamento
faz favor de não contar
pra ninguém do fazimento
pro bolo não desandar
peraí, que eu volto já
enquanto isso, o rebento,
todo acontecimento
vem quando tem de chegar
meu poema tem fermento
e a lua, pó de solar
Alex Simões is a Brazilian poet and performer who creates urban interventions with spoken and sung poetry and visual poems. He’s the author of Contrassonetos (Mondrongo, 2015), (hai)céufies (Esquizo, 2014), and 41 Collected Sonnets (Domínio Público, 2013). His work has been anthologized in Brazil and the U.S. He’s a co-editor of Revista Organismo journal and is a columnist for Revista Barril. His blog is www.toobitornottoobit.blogspot.com
Tiffany Higgins is the author of The Apparition at Fort Bragg (2016), an e-chapbook, winner of the Iron Horse Literary Review e-single contest for a long poem, selected by Camille Dungy. Her book And Aeneas Stares into Her Helmet (Carolina Wren Press, 2009) was selected by Evie Shockley as winner of the Carolina Wren Poetry Prize. Her poems appear in Poetry, Massachusetts Review, and other journals. Her translations of Rio poet Alice Sant’Anna’s poetry, Tail of the Whale, are available as a chapbook from Toad Press (2016).